domingo, 4 de janeiro de 2015

Sobre o sentir...

hoje, sob a influência da chegada da primeira lua cheia do ano, não quero usar palavras próprias, quero apenas usar Drummond e Bukowiski para resumir o que sinto. Espero que meu retorno ao Blogger seja efetivo, espero... Mas não me preocupo. Sinto vontade apenas.

A UM AUSENTE

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
Carlos Drummond de Andrade

O Pássaro Azul

(Tradução: Pedro Gonzaga)

há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você ?

há sempre momentos mágicos pela vida. Muitas vezes o medo ou a “insabidez" nos deixam perdê-los.
http://youtu.be/eTpHXRcLpUY

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Insanidade
“Desejo Insano”

É que nem todo desejo certamente chegará ao seu objetivo.
Nem todos eles podem ter um fim.
A alma do desejo é a “coisa”. Muitas vezes, não a coisa por si só.
Mas, a criação superlativada que fazemos dela.
O desejo é alimentando pelo até então ilusório sonho de ser algo, realidade.

Eu tropecei em meu desejo. De certezas tive apenas lampejos.
O desejo virou tormento dentro do meu corpo inteiro, sedento.
Rasguei-me de vontade todos os dias. Vesti, respirei, bebi e comi meu desejo,
Apenas na metáfora de ser, pois o real de repente escorreu pela possibilidade de não ser.

Meu desejo fantasiou-se de duvida, angústia e insanidade.
Sambou um carnaval inteiro da maneira mais sádica que se pode ser.
Perdi o controle, o rumo, a razão de comigo para comigo mesmo.

Tudo isso aconteceu, por que quando a coisa se tornou quase tocável
Criou vontade e sentiu outro desejo.
O meu desejo brigou com o desejo da própria coisa desejada.
E continua assim, nesse rumo sem fim.


                                                                                              Rafael Fernandes.
Do Desejo, por Alice Caymmi


domingo, 24 de fevereiro de 2013

                                                                   RITMO

Sem ritmo, fica tudo mais difícil. Observando a hermenêutica dos movimentos internos que norteiam o pensamento e os sentimentos humanos, podemos perceber que tudo tem um ritmo. Mesmo que este não seja contínuo, mesmo que hora seja um gênero, hora seja outro, algumas vezes mais lento, vezes mais acelerado, vezes mais melancólico, outras mais alegres, mais vívidos, nunca deixamos de ter um ritmo que tange nossos sentimentos e nossas ações ou reações.
Tendo pensado um pouco nos últimos tempos sobre esses ritmos que regem os movimentos humanos, concluí claro, com respeito a todos os outros gostos e preferências, que o Samba é o mais importante! Mas espera um pouco, estou falando aqui de ritmo de pensamento, ritmo de vida, ritmo de sentimento e não de ritmo musical. E quem falou que ritmo é só de musica ou só de gente, sentimento, dança, trânsito, pensamento ou relacionamento? Ritmo não é só de uma coisa ou só de outra, ritmo é ritmo em qualquer situação, até mesmo energeticamente falando, até mesmo nas formas mais etéreas de que se manifesta a matéria e seus átomos e os elementos outros que os compõem. Tudo tem ritmo, mesmo que não se saiba disso. Eu elegi o Samba como o melhor deles.
Bom, chega de introdução bonita na dissertação e vamos para os argumentos de por que do Samba. Esse ritmo tão alegre, tão cheio de energia, tão “Serelepe” e suave ao mesmo tempo, é um gênero musical, do qual deriva de um tipo de dança de raízes africanas, surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras. Não é atoa que podemos dar as mesmas qualidades ao povo brasileiro. Mas não, antes de tudo não é brasileiro! O samba é afro descendente! É mais uma herança cultural destes povos que foram forjados e forçados a deixar o continente Africano para nos servir de maneira nada humana, ou sei lá, podemos dizer até que de maneira mundana, por que de Deus para quem acredita nele e em sua bondade isso não foi. Esses povos que foram trazidos para o Brasil e torturados no corpo na alma e no coração, trouxeram além da tristeza eminente, um ritmo muito contrário a toda essa situação, tocado em tambores nas rodas dos terreiros da casa grande ou nas Senzalas trazia alegria, trazia boa energia e sinônimo de festa, talvez também uma forma de cantar a dor. Foi no Recôncavo Baiano que o Samba brasileiro ganhou identidade e daí, se espalhou por todo país. O termo Samba é originário de uma das muitas Línguas africanas, possivelmente do Quimbundo, onde "sam" significa "dar", e "ba" "receber" ou "coisa que cai". Ainda há uma versão que diz que a palavra samba vem de outra palavra africana, semba, que significa umbigada.
Poderia aqui contar toda a história do samba, seu sucesso nacional e mundial, mas esse não exatamente é o foco deste “escrivinho”.  Escolhi o Samba como melhor ritmo brasileiro, por que ele descreve com suas características, as características do povo brasileiro. Um ritmo de alto astral, com um fundo triste e sempre positivo, de batuques fortes e nunca desanimadores. Feliz daquele que sabe sambar! Feliz daquele que quando ouve o cavaquinho, o pandeiro, o surdo o tamborim e o bandolim, consegue sair dançando, de braços abertos e sacudindo o que conseguir! Me lembro de algumas passagens nessa minha vida, nas que o samba esteve presente, sempre foram felizes. Até mesmo quando tentava ensinar uma pessoa muito querida a sambar. Nas nossas festas ou reclusões em montanhas para celebrar o amor e a amizade, quando tocava um samba no rádio eu saia sambando, e tentava lhe ensinar o arrastar dos pés, mas dali nada saía, apenas tentativas e muitas risadas no jeito engraçado que tudo se tornava o corpo ao se tentar sambar! Quantas saudades disso! Com certeza, um samba daria esta história.
Por fim, poderia escrever um livro ao invés de uma dissertação sobre o Samba, por que  muito temos para contar sobre ele. Muita coisa sobre o samba não falei aqui, por que não caberia mesmo. Mas, gostaria de ressaltar as comparações ao ritmo e ao sentimento. O Samba é para se cantar triste ou alegre, chorando ou sorrindo, de coração doendo ou não, o samba está em tudo! “Não deixe o Samba morrer, não deixe o Samba acabar”...

                                                                                                     Rafael Fernandes de Souza

Pelo Telefone é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo a maioria dos autores, a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional.
Composição de Donga e Mauro de Almeida (registrada em 27 de novembro de 1916 como sendo de autoria apenas de Donga foi concebida em um famoso terreiro de candomblé daqueles tempos, a casa da Tia Ciatafrequentada por grandes músicos da época. Por ter sido um grande sucesso e devido ao fato de ter nascido em uma roda de samba, de improvisações e criações conjuntas, vários foram os músicos que reivindicaram a autoria da composição.


segunda-feira, 25 de abril de 2011

PERDER...PODER, PERDER...


   Óhhh! E agora??? Perdi minha carteira!! Onde será que foi? Quem será que achou? Será que acharam?
Ahhh!! Mas tinha tudo dentro dela!!! Dinheiro, documentos e coisas que se tem dentro de uma carteira, coisas...
   Quem de nós um dia não viveu um momento desses na vida??? Mesmo que não fosse a carteira toda... pois é...
muitos dizem que a culpa é do ego! Do egoísta que não sabe perder, que não sabe encontrar outra coisa que não seja a mesma. Hoje eu vi lágrimas de perda, ontem eu criei lágrimas de perda, amanhã pode ser sim você, pode ser eu novamente! Mas e a dor? Ahhh que dor! Quanto mais dói, maior é o ego!! Quanto mais fere, mais difícil é para reaver a alegria. mas tem aqueles que perdem na esportiva! O importante é competir, não é ganhar!
    E quando o motivo da perda é alguém que te deixa por que não te ama mais? E  quando o motivo da perda é a morte? Aí está tudo acabado?
Não! Dentro de todas as perdas que eu já pude experimentar e acompanhar, a unica coisa que posso pensar é que... se perdemos, é por que nunca nos foi dado, é por que não nos pertence, é por que na verdade não é nosso!
    Agora, o que eu não posso perder é a dignidade, o que eu não posso perder é o entusiasmo, o que eu não posso perder é a esperança, e muito menos o apetite!!! Já pensou? São coisas mais importantes do que carteira, amor, e coisas do gênero. Por que essas coisas são o que eu sou! Por que são coisas do tipo que eu vivo! Acho que o importante é não se perder, não perder a hora, não perder a carona, a novela, não perder o botão da camisa no meio do casamento, não perder a paciência, a calma, a paz. Não perder a força de vontade, não perder a crença, a fé, a perseverança! O importante é não perder! Será?
    Podemos perder sim! Não mata! Só não morre da perda aquele que sabe que aquilo que era, na verdade nunca foi!
    Fui!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Diário de Bordo



Há um ano e meio, tivemos a feliz oportunidade de compartilhar entre nós, a idéia de reunir o potencial cultural de Pedralva em um só evento. Muitos foram os dias de conversas e idéias disparadas, até que então, em Outubro do ano passado conseguimos reunir cada potencial vivo de cultura que temos na cidade de Pedralva, e claro, que ali não estavam todos. A experiência primeira foi uma surpresa orgulhosa. Não encontramos se quer alguma oposição quanto aos convites feitos aos artistas daquele ano da primeira mostra cultural; a prontidão foi imediata e todos se tornaram voluntários da idéia. Tenho certeza que todos que estiveram lá no ano passado se identificaram de alguma forma, e se viram “Peralvenses” com razão. Claro que nem todo céu é azul, que tropeços existem. Encontrar apoio de quem não conhece o potencial cultural que temos, foi um trabalho árduo em que de alguma forma foi positivo.
Foi fato que ao final do evento, a segunda mostra cultural aconteceria no ano próximo, e que faríamos da primeira a nossa inspiração para realizar a segunda. Durante o ano todo idéias corriam entre telefonemas, e-mails e conversas com encontros acompanhados de muita música e entusiasmo.
Conseguimos então o apoio de mais pessoas que conhecem o valor de um povo que tem cultura, felizes fomos quando encontramos o apoio do Grupo Excursionista Pedra Banca, Duda, Paula Abreu, Caio e de Mônica Bustamante. Não podemos esquecer nunca da riqueza que foi contar com a colaboração do pessoal que se aventura e se arrisca a fazer cinema em Pedralva, mas que sempre nos fazem orgulhosos Pedralvenses sentados em frente à “telona”.
            Estar ali, presenciando e vivenciando a movimentação e mobilização de pessoas na produção da segunda mostra cultural, é uma emoção única ao exagero de quem não sente. Cada um com sua contribuição, cada um com o seu voluntariado, e cada um com a sua bagagem cultural, dividindo e compartilhando pra fazermos um só resultado: Mostrar a cultura do nosso povo. O Clube recreativo naquelas datas se tornou um lugar de festa e um lugar rico, muito rico no que se refere à cultura, união, e boa vontade. Todos iam chegando para ensaios, preparos, ajuste de som, exposição de artesanato, decoração, tudo em detalhes, tudo com a preocupação de quem quer fazer da sua cultura o seu orgulho. Não temos aqui e nem teríamos em nenhum lugar, linhas suficientes para agradecer a todos que de alguma forma contribuíram com a nossa “substancial” Mostra Cultural. E diante das dificuldades de se produzir um evento com tamanha importância, praticamente sem incentivo financeiro e de órgãos competentes a isso, é sim de muito orgulho ser pedralvense, quando em uma mostra cultural, descobrimos que somos “venturados” de poetas, músicos, pintores, artesãos, atores, compositores, cantores, contadores de história, cineastas, pessoas que tem como áurea a arte em si, que nos fazem curiosos à saber de onde vem a inspiração, que é com certeza a terra que nos tornamos natos e que nela podemos assistir a essência de um povo.
  Um apêndice: Significado etimológico de “cultura”: vem do verbo “cólere”, de que deriva “cultura”, exprime a idéia de “amanhar, cuidar, revolver” a terra, fertilizando-a semeando a boa semente para que produza mais e melhor.

                                                                                                     Com Gratidão,
                                                                                                     João César Silva e Rafael Fernandes.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Tapete Vermelho



  
   Sei que a festa foi boa! Você comeu e bebeu do bom e do melhor!
   Conheceu gente nova, dançou, se emebebedou e não parou nem ao raiar do sol.
   Ahh!!! Que lembranças ótimas tenho daquela festa! Quanta gente! Quantos encontros! Quantas alegrias!
   Eu vi você dançar, como quem flutuava em toda aquela novidade!
   Eu vi você sorrir, como nunca tinha visto ninguém sorrir antes!
   Nunca mais esquecerei das músicas daquela festa! 
   Ainda ouço cada som, cada nota, como se ainda estivesse lá.
   Não existiu outro lugar para se fazer tal festa como aquele!
   Quanta beleza, Quanta natureza! Quanta luz tinha lá.
   Mas como toda festa, essa também uma hora acabou.
   Como em toda festa eu fui o ultimo a sair do salão!
   Por que eu, em toda essa festança, fui apenas o seu tapete!
   Mas eu tenho certeza que não fui qualquer tapete!
   Eu fui o seu, apenas seu! Eu fui o seu tapete vermelho!
   E agora sim eu também me lembro da elegância de como você passou por mim.
   Não tinha ninguém mais exuberante do que você naquela festa, ninguém!
   Nenhuma pisada, nenhuma pegada doeu em mim! Tapete não sente dor.
   Tapete, só por que é tapete não deixa de ser elegante. 
   Ainda bem, que eu te servi como deveria.
   Exuberante como só vendo! Mas sem me esquecer de ser tapete.
   Mas agora a festa acabou, quem sabe algum dia nos encontraremos,
   em um mundo mais verdadeiro, onde eu mesmo com as qualidades de tapete,
   receba o devido valor que os seres e as coisas devem ter!