domingo, 24 de fevereiro de 2013

                                                                   RITMO

Sem ritmo, fica tudo mais difícil. Observando a hermenêutica dos movimentos internos que norteiam o pensamento e os sentimentos humanos, podemos perceber que tudo tem um ritmo. Mesmo que este não seja contínuo, mesmo que hora seja um gênero, hora seja outro, algumas vezes mais lento, vezes mais acelerado, vezes mais melancólico, outras mais alegres, mais vívidos, nunca deixamos de ter um ritmo que tange nossos sentimentos e nossas ações ou reações.
Tendo pensado um pouco nos últimos tempos sobre esses ritmos que regem os movimentos humanos, concluí claro, com respeito a todos os outros gostos e preferências, que o Samba é o mais importante! Mas espera um pouco, estou falando aqui de ritmo de pensamento, ritmo de vida, ritmo de sentimento e não de ritmo musical. E quem falou que ritmo é só de musica ou só de gente, sentimento, dança, trânsito, pensamento ou relacionamento? Ritmo não é só de uma coisa ou só de outra, ritmo é ritmo em qualquer situação, até mesmo energeticamente falando, até mesmo nas formas mais etéreas de que se manifesta a matéria e seus átomos e os elementos outros que os compõem. Tudo tem ritmo, mesmo que não se saiba disso. Eu elegi o Samba como o melhor deles.
Bom, chega de introdução bonita na dissertação e vamos para os argumentos de por que do Samba. Esse ritmo tão alegre, tão cheio de energia, tão “Serelepe” e suave ao mesmo tempo, é um gênero musical, do qual deriva de um tipo de dança de raízes africanas, surgido no Brasil e considerado uma das principais manifestações culturais populares brasileiras. Não é atoa que podemos dar as mesmas qualidades ao povo brasileiro. Mas não, antes de tudo não é brasileiro! O samba é afro descendente! É mais uma herança cultural destes povos que foram forjados e forçados a deixar o continente Africano para nos servir de maneira nada humana, ou sei lá, podemos dizer até que de maneira mundana, por que de Deus para quem acredita nele e em sua bondade isso não foi. Esses povos que foram trazidos para o Brasil e torturados no corpo na alma e no coração, trouxeram além da tristeza eminente, um ritmo muito contrário a toda essa situação, tocado em tambores nas rodas dos terreiros da casa grande ou nas Senzalas trazia alegria, trazia boa energia e sinônimo de festa, talvez também uma forma de cantar a dor. Foi no Recôncavo Baiano que o Samba brasileiro ganhou identidade e daí, se espalhou por todo país. O termo Samba é originário de uma das muitas Línguas africanas, possivelmente do Quimbundo, onde "sam" significa "dar", e "ba" "receber" ou "coisa que cai". Ainda há uma versão que diz que a palavra samba vem de outra palavra africana, semba, que significa umbigada.
Poderia aqui contar toda a história do samba, seu sucesso nacional e mundial, mas esse não exatamente é o foco deste “escrivinho”.  Escolhi o Samba como melhor ritmo brasileiro, por que ele descreve com suas características, as características do povo brasileiro. Um ritmo de alto astral, com um fundo triste e sempre positivo, de batuques fortes e nunca desanimadores. Feliz daquele que sabe sambar! Feliz daquele que quando ouve o cavaquinho, o pandeiro, o surdo o tamborim e o bandolim, consegue sair dançando, de braços abertos e sacudindo o que conseguir! Me lembro de algumas passagens nessa minha vida, nas que o samba esteve presente, sempre foram felizes. Até mesmo quando tentava ensinar uma pessoa muito querida a sambar. Nas nossas festas ou reclusões em montanhas para celebrar o amor e a amizade, quando tocava um samba no rádio eu saia sambando, e tentava lhe ensinar o arrastar dos pés, mas dali nada saía, apenas tentativas e muitas risadas no jeito engraçado que tudo se tornava o corpo ao se tentar sambar! Quantas saudades disso! Com certeza, um samba daria esta história.
Por fim, poderia escrever um livro ao invés de uma dissertação sobre o Samba, por que  muito temos para contar sobre ele. Muita coisa sobre o samba não falei aqui, por que não caberia mesmo. Mas, gostaria de ressaltar as comparações ao ritmo e ao sentimento. O Samba é para se cantar triste ou alegre, chorando ou sorrindo, de coração doendo ou não, o samba está em tudo! “Não deixe o Samba morrer, não deixe o Samba acabar”...

                                                                                                     Rafael Fernandes de Souza

Pelo Telefone é considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil segundo a maioria dos autores, a partir dos registros existentes na Biblioteca Nacional.
Composição de Donga e Mauro de Almeida (registrada em 27 de novembro de 1916 como sendo de autoria apenas de Donga foi concebida em um famoso terreiro de candomblé daqueles tempos, a casa da Tia Ciatafrequentada por grandes músicos da época. Por ter sido um grande sucesso e devido ao fato de ter nascido em uma roda de samba, de improvisações e criações conjuntas, vários foram os músicos que reivindicaram a autoria da composição.